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quinta-feira, 10 de março de 2011

BOLACHA um gato para a eternidade

Bolacha, um gato inesquecível 

Se fosse vivo o meu Bolacha faria hoje 20 anos. Nasceu no Porto em 11 de Março de 1991. Comprei-o numa loja de animais na Rua de Santa Catarina. Uma das minhas ex-mulheres apaixonou-se por ele e ele por ela. Era o mais irrequieto de uma ninhada de 3 siameses. Por causa dele tive de ficar uma noite mais no Hotel D.Henrique porque encontrá-mo-lo por acaso naquela montra no dia 25 de Abril e o estabelecimento encontrava-se encerrado. 
Viemos no comboio Alfa para Lisboa e logo aí vimos como ele era completamente doidolas mas muito senhor do seu nariz. Saltitava, sem receio algum, de lugar em lugar e toda a gente simpatizava com ele. Mas também aí revelou a sua outra faceta mais felina: arranhava sem hesitação quem não lhe agradava. 
Passados uns dias foi ao veterinário. Nesse lugar onde normalmente os animais se acanham ele saltitava por todo o lado e ferrou os dentes na dra Cláudia, uma jóia de médica da bicharada. 
O Bolacha foi crescendo e fazendo das suas. Não tinha medo de nada nem de ninguém. Não deixava a empregada pegar no telefone. Atirava-se a ela se o tentasse. Nunca descobrimos a razão desse seu comportamento. Outra vez veio um pintor cá a casa para mudar a cor das paredes e do tecto. Era um indivíduo duro e destemido. Mas isso não intimidou o Bolacha. O gato esperou que ele subisse até ao alto do escadote para se atirar ao homem. Caiu ele, o tabuleiro da tinta, o rolo e quando chegámos a casa estava tudo salpicado de tinta. O pintor, esse, nunca mais quis entrar aqui em casa nem para receber o dinheiro. 
Outra empregada esteve de baixa durante 3 meses. A sorte dela foi eu estar em casa e a muito custo lá consegui que ele lhe largasse o braço, onde lhe cravara as unhas e mordia com toda a fúria. 
Foi longa a lista de vítimas do meu terrível Bolacha, muito mais eficaz que um cão de guarda. Numa noite de Natal saíram de minha casa a sangrar o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, cunhada e sobrinho. Escapei eu a minha minha mulher e o meu filho. 
O curioso é que ele nunca se assanhava nem bufava antes de atacar. Pelo contrário, mostrava-se sempre calmo e com ar inocente. 
Os cães, coitados, eram uns mártires. Fossem eles alltos, baixos, grandes ou pequenos. Nenhum intimidava o Bolacha. Atirava-se aos focinhos deles, esgatanhava-os e colocava-se à frente deles a lavar o pêlo, como se nada tivesse acontecido. 
Quando me separei ele sentiu a falta da dona. Curiosamente ele adorava as loiras. Quando iam para a minha cama ele passava horas a lamber-lhes os cabelos. Às morenas não ligava nenhuma. 
Uns anos depois trouxe uma gata para casa. O bravo e terrível Bolacha tratava-a com a delicadeza de um cavalheiro. Nasceram os filhos e era um pai exemplar. Os filhotes saltitavam por cima dele sem que ele alguma vez se aborrecesse. Podia estar cheio de fome que esperava pacientemente que a família comesse para então se aproximar do prato. 
Há quatro anos, cheguei a casa de madrugada e ele, já com 16 anos, estava estendido, com um arfar que augurava o final da sua agitada mas feliz existência. Só sofreu durante duas horas. Dei-lhe dois xanax para acelerar o inevitável enquanto o veterinário não chegava. Mesmo muito cambaleante lá foi ao caixote fazer as suas últimas necessidades. O veterinário apareceu e concordou com o meu "diagnóstico". Ajudei-o a dar a injecção letal e o meu Bolacha desapareceu da minha vida, que nunca da minha memória, sempre afagado com a minha mão. Não lhe tirei a coleira que ele tanto adorava e que ele nunca permitia que lhe retirassem do pescoço. E vi-o desaparecer na noite embrulhado no seu cobertor azul de sempre...
A saudade aperta-me mais o nó na garganta ! 





3 comentários:

  1. Que história bonita! Pensa que já foi um privilégio ter o Bolacha! Nem todos sabem o que é ter assim uma ligação com um animal. Não sou fã de gatos (e tu sabes) mas adoro cães e sei bem o que sentiste...

    Era levado da breca esse teu Bolacha :) Loiras hein? ;))

    Beijo gordo

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  2. Oh, que maravilha de história!
    As saudades que sentimos de um amigo de quatro patas servirão também para nos recordar sempre da lealdade e cumplicidade que os mesmos sentiram por nós em vida (o que é lindo de se ver), e que fizemos de tudo ao nosso alcance para terem uma vida em pleno e feliz.
    Estou certa que esse gatinho enquanto andou por cá foi muito feliz :)
    ****

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  3. Obrigado, Marta-Hari, pela atenção...Assim como pelo post animador da Vanz...Bjkxx às duas!

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