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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

À mesa com um cadáver...

Tenho um amigo a quem chamo Xico Ministro. Mas não é Francisco nem político. "Baptizei-o" assim pela sua personalidade sui generis, a sua fala tipo os antigos lentes das universidades e a sua figura física um misto de Charlie Chaplin e Luís Marques Mendes. Nas situações do maior stress, o meu amigo Xico Ministro fica com uma fome  incontrolável e não consegue reagir às situações antes de encher o estômago. Só depois reage aos acontecimentos.
Nesta macabra onda de idosos encontrados mortos em casa, o drama bateu à porta da candidata a namorada do meu amigo Xico Ministro. A Anita chegou ao remanso do lar doce lar depois de um dia de trabalho num consultório médico e quando entrou na cozinha sentiu o tremendo choque de se deparar com um quadro sinistro: a mãe caída no chão. Morta. A senhora já se encontrava muito doente, a vida persistia há anos por um fio, mas finou-se sozinha, entre os lava-loiça e as máquinas de lavar. Apesar de estar preparada para este desfecho trágico, a Anita ficou, como se deve calcular, em pânico. Ligou, nervosamente, para a polícia, os bombeiros e o...Xico Ministro.
O primeiro a chegar foi o meu amigo e candidato a namorado da Anita, logo de seguida os bombeiros e mais tarde os agentes da autoridade. O corpo da velhota encontrava-se prostrado nos azulejos e o Xico Ministro saltitava sobre ela, abrindo o frigorífico e ligando o fogão, abrindo e fechando armários até encontrar uma desejada frigideira.
Sentada numa cadeira, entre polícias e bombeiros, a Anita desabafava o seu pranto. Naturalmente. Ao mesmo tempo, o candidato a namorado, indiferente a tudo e todos, cozinhava ovos mexidos a meio metro da defunta, numa cozinha superlotada à espera da chegada do delegado de saúde.
O Xico Ministro sentou-se ao lado da Anita, devorou os ovos mexidos para acalmar a fome provocada pelo stress do momento, e depois da refeição, quase à mesa com um cadáver, perguntou à chorosa candidata a namorada:
-- Posso fazer alguma coisa?
-- Podes -- respondeu-lhe ela -- Vai para o raio que te parta !


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