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domingo, 20 de março de 2011

O feitiço da Lua Cheia

A lua "gorda" vista da minha janela

A Lua passeou cheia e iluminou a minha rua. Lembrei-me do Luar de Agosto do meu livro da terceira ou da quarta classe. Recordei as histórias de infância ouvidas numa aldeia da Beira Baixa, Alcafozes, um lugar perdido entre os inúmeros cabeços nas franjas da Meseta Ibérica. Nos anos 50 e 60 não havia electricidade por ali. Ao pôr-do-sol acendiam-se os candeeiros a petróleo dentro das casas de pedra. A cozinha no andar superior, logo a seguir às escadas, iluminava-se timidamente com a chama da candeia de azeite sobre a lareira. Em baixo, instalavam-se os animais, burros ou machos, galinhas e cabras, e sentia-se o cheiro seco do feno. 
Depois de jantar a família reunia-se na soleira da porta, sentada em "mochos" de cortiça ou cadeiras de vime entrelaçado na armação de madeira. Nas noites de lua cheia os serões prolongavam-se um pouco mais. A maioria das histórias versavam as noites de luar. Os contos que mais me fascinavam e simultaneamente arrepiavam eram os que envolviam  lobisomens transformistas que surgiam  nas encruzilhadas nos caminhos de pêlo hirsuto e dentes arreganhados, a "má-hora" que fustigava quem não se refugiava a tempo desse indesejável encontro, os pássaros empalados nos ramos mais afiados das silvas, a loucura acentuada pela lua cheia e um sem fim de outras lendas e narrativas inspiradas no brilho mais cintilante do belo astro.
Com o decorrer dos anos fui observando a Lua dos lugares mais diversos, desde o mar ao deserto, das montanhas às florestas, das cidades às planícies. O luar que mais me influenciou e interiorizei com uma paz de espírito indescritível e me deixou uma recordação inesquecível foi na ponte sobre o rio Cobrão, um pequeno curso de água antes de Vila Velha de Ródão e no início da estrada para a Sertã. A magia do sussurrar das águas que espelhavam com milhões de pontos brilhantes a luminosidade da Lua prenderam-me para sempre na memória o feitiço daquele lugar intenso e único.  






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