A minha vela-isqueiro...
Há dias em que um tipo se levanta com o pé esquerdo. Irra ! O meu ritual diário começa por acender um cigarro. Fui para a casa de banho, sentei-me no "trono" dos detritos, peguei no isqueiro e zuca...zuca...zuca...mas quanto à calorosa e desejada chama...nada. Insisti com o raio do BIC até o polegar ficar em carne viva...Rien de rien...Entre pragas e expressões eventualmente chocantes procurei por fósforos. Vasculhei a despensa, a cozinha e nem um desejado pauzinho de ponta vermelha. Vermelho já estava eu de raiva por não encontrar nada que fizesse faísca e me desse o prazer de satisfazer o vício. Mais umas voltas e lá estavam umas carteiras de fósforos daquelas que um tipo surripia como recordação dos hotéis. Mas, infelicidade das infelicidades, o tempo e a humidade deixaram-nos gelados e incapazes de dar lume como o focinho de um urso polar. Quase a esgotar o meu vasto reportório de pragas lá vislumbrei um Zippo que o meu filho me ofereceu num dos últimos aniversários. Eureka ! Era agora. Qual quê. A pedra estava gasta e o algodão do combustível seco como um esqueleto ao sol do deserto do Atacama. Obviamente que também já não me lembrava onde tinha guardado as pedras e o combustível para o meu estimável Zippo renascer para as labaredas. Descalço e em trajes menos fui bater à porta da vizinha implorando por um fósforo. Subi e desci escadas porque esta gente tem o raio da mania de sair de casa ao domingo para se enfiarem nos Pastéis de Belém, nos centros comerciais ou andarem a lixar ainda mais o buraco do ozono com a poluição dos carros por estradas que percorreram milhares de vezes e não têm qualquer novidade. Depois venham-me falar em crise que os mando para a "outra banda" imediatamente. Finalmente lá encontrei um vizinho consciente que cumpre as regras do FMI e não entra em vadiagens domingueiras supérfluas. Também tinha o isqueiro em baixo de forma com uma chamazinha minúscula. Do mal o menos. Lá deu para eu acender uma vela em casa e cá estou eu de olho nela não vá a corrente de ar apagá-la e os meus pulmões ficarem sem a indispensável intoxicação tabágica...Ainda por cima a vela não sei se é de confiança. Foi-me oferecida por uma bruxa amiga no dia das ditas...
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