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sexta-feira, 24 de junho de 2011

PORTUGAL com ou sem TROIKA !


Portugal está em crise? Alguém fora da corte do último ex-primeiro-ministro  duvida? Porquê? Há falta de produtividade? A culpa é dos patrões? É dos empregados? É da falta de matéria-prima? Ou será do calendário? Bem, em Janeiro, início dos anos desde que o Papa Gregório XIII acabou com os resquícios do calendário Juliano, implantado pelo imperador Júlio César em 46 A.C. e modificado pelo seu sucessor Augusto em 8 D.C. Os romanos eram muito instáveis com o tempo e particularmente com os nomes dos meses. De todas estas mudanças subsistem ainda algumas diferenças temporais de que resulta uma diferença de 13 dias entre os calendários ortodoxos e os católicos, anglicanos, protestantes, etc. Hoje é 24 de Junho, penso eu que nunca sei às quantas ando, enquanto no calendário juliano (ortodoxo) é dia 11 de Junho...Ainda faltam, portanto, dois dias para os ortodoxos comemorarem o Santo António...
Deixemos estes pormenores de somenos importância e vamos aos factos concretos. Dizia eu que em Janeiro é o regresso ao trabalho, o tempo dos grandes planos para o novo ano, a elaboração de projectos pessoais e profissionais e, já agora, a marcação das férias. Ano novo vida nova. Será? 
Excepto às segundas-feiras em que o pessoal ainda digere os resultados da última jornada dos campeonatos de futebol, a malta ainda lá vai mexendo nos papéis enquanto dá uma espreitadela no Facebook para dar uma piada às tipas mais giras adicionadas (ou vice-versa), faz uma colheita no Farmville ou ergue novos edifícios no Cityville. Já lá vai o tempo em que o funcionalismo se enfiava nas retretes a ler "A Bola", o "Record", a "Caras" ou a "TV Guia". Pelo meio há sempre umas mensagens de telemóvel para mandar aos descendentes, aos ascendentes, aos amigos, às amigas, aos mais ou menos conhecidos, ao último engate, à última conquista, à empregada para saber se deu comer ao gato ou se levaram o cão à rua, se a sogra ainda está viva ou se o banco não pode esperar mais um bocadinho para se recompor o saldo negativo. 
Há a hora do café. Quem consegue trabalhar sem essa poção mágica? Mais dois, três ou quatro dedos de conversa...
Eh lá, como o tempo passou tão depressa. Já é hora de almoço. Uns, poucos, trazem uma bucha de casa, outros contentam-se com um croquete e um galão ou uma cerveja que o raio da prestação da casa, do carro, do cartão de crédito, do colégio da pequenada, do LCD, do portátil, das férias, dos sapatos, da moda de Inverno e dos saldos não permite banquetes. No entanto, as tascas e os restaurantes que escaparam por pouco à ditadura da ASAE enchem-se de "bons garfos" que não sobrevivem sem o grão com mão de vaca, a dobrada, o cozido à portuguesa, o rancho à minhota, a mousse de chocolate, o omnipresente molotov, a litrada de tinto, a aguardente velha e a bica. Elas, sobretudo, preocupadas com a "linha", debicam aquelas comidas de passarinho tipo saladas e vegetarianices ensopadas em copos de água. 
A tarde é quase um pró-forma presencial nas empresas. Antes e depois do "break" para o café reanimam-se os telemóveis, o MSN, o Facebook para se combinar tudo e mais alguma coisa, desde quem vai buscar os putos ao colégio ou qual o filme da noite, que às segunda-feiras no cinema é mais barato.
Passado o mês de Janeiro nesta rotineira rotina aproxima-se o Carnaval, a neve na Serra da Estrela, as folias tradicionais de Torres Vedras e outras milhentas cidades, vilas e aldeias... Uma semana antes e uma semana depois do Entrudo a produção desce quase a zero, não só pelos dias fora da residência habitual mas também para mostrar as fotos no telemóvel, nas pens, nas redes sociais, etc. 
Ainda o ritmo de trabalho não reatou a sua normalidade (alguma vez a atinge?...) já se fazem planos para a Páscoa. A Semana Santa é o climax de uma Quaresma que ninguém cumpre religiosamente mas nunca falha civilmente. Até os judeus, muçulmanos, hindus e outros que tais vão na onda. Muitos aproveitam para colar três ou quatro dias ao dia em que crucificaram Jesus Cristo ou ao dia em que Ressuscitou, et voilá, cumpre-se o primeiro período de férias. E também o subsídio salvador de tantas economias caseiras. No entretanto, voltaram as competições europeias de futebol e com jogos às terças, quartas e quintas-feiras há que zarpar o mais depressa possível da "escravatura" para fora e apoiar o SLB, o SCP, o FCP, o Cristiano Ronaldo, o José Mourinho e também não se podem esquecer os embates da Selecção Nacional, ora essa. 
A política não fica de fora das empresas. É a época alta das manifestações. Normalmente vem para a rua os aficionados da CGTP, da UGT, dos TSD, as diversas classes profissionais apresentam-se à(s) greve(s), agora reforçadas com várias "gerações à rasca", "acampados", "insurgentes", todas as franjas contestatárias da sociedade e alvejam-se os políticos, todos uns corruptos e umas sanguessugas do Estado. O que até é verdade, diga-se de passagem. 
Felizmente chegou o 25 de Abril. Por causa da Liberdade? Qual quê. É mais uma ponte. Nova oportunidade para umas sortidas pelo País. A migração inclina perigosamente Portugal para o Algarve e o feriado do 1º de Maio já está aí à porta. Uma segunda vaga move-se para o Litoral enquanto uns crentes iludidos que vivem em Democracia festejam o Dia do Trabalhador com o...descanso.
Na primeira semana de Maio, ufff, o regresso à empresa. Que sossego depois do stress das pontes e viadutos do 25 de Abril e do 1º de Maio. Mais fotos de telemóvel, pens, redes sociais para mostrar e colocar à vista dos amigos do Face, Orkut, Hi5 e outras montras da vida privada. Os dias são maiores, às 17 horas o grosso da massa trabalhadora esgotada pelas interrupções laborais têm agora concertos do pimba arrasa corações Tony Carreira ou levam uma tampa da embriagada Amy Winehouse (faz jus ao nome artístico...), isto se a Ivete Sangalo não vier cá pela milésima vez ou o Elton John pela milionésima vez. 
A afã nas empresas em Maio aumenta com o desfolhar dos dias. Mais trabalho? Não propriamente. Vem aí Junho, os Santos Populares, os feriados nacionais e municipais, os santos populares, as férias. As tão desejadas férias depois da trabalheira de tantas pontes e feriados. 
Julho, Agosto e Setembro não contam para a produtividade. Só para o Totobola. Metade do people vai de férias e outra metade fica na paz e no sossego das empresas semi-vazias, sem chefes a controlar e a chatear. Discutem-se as transferências estivais dos clubes de futebol, os festivais de música de Verão, o bronze, as roupas leves, os bikinis e os fatos de banho e o ponto da situação dos incêndios que anualmente riscam Portugal como um fósforo. Há ainda uns truques e malabarismos que se podem fazer com o feriado do 15 de Agosto, não é verdade? 
Setembro chegou, vamo-nos separar...Alto isto era uma música do Duo Ouro negro que me deixava deprimido sempre que a ouvia. Era um "aviso" que vinham aí as aulas...Voltemos ao mês de Setembro. Arriba a massa trabalhadora estoirada das férias, mais fotos de telemóveis, pens...bolas, não vou repetir isto outra vez...É o regresso às aulas. Sai-se mais cedo do trabalho por causa dos livros, das mochilas, da roupa da pequenada para o novo ano lectivo, a logística do leva e trás dos alunos, o reconhecimento da escola, horários, quem transporta a(s) criancinha(s). Uma trabalheira fora do trabalho...  
A malta só não dá em doida porque o 5 de Outubro surge oportunamente para desanuviar. Abençoada revolução republicana que salva a população activa do esgotamento. E felizmente voltou o Futebol, os jogos escaldantes, as greves, as manifestações, os concertos, os filmes de estreia como fuga de escape à meia dúzia de horas nos campos de concentração empresariais...
Já mais mortos que vivos, os escravos do século XXI recuperam energias no dia 1 de Novembro em que todos-os-santos ajudam a massa laboral a sobreviver até ao final do ano. No entanto, é tempo das gripes suínas, das galinhas, dos sapos, das abetardas, etc., dá para umas baixas e deitar um olho às montras de Natal, que entretanto as ruas já estão iluminadas a lembrar que falta pouco para o Pai Natal descer pelas chaminés, condutas de  ares condicionados, salamandras, etc. 
1 de Dezembro. Uau. Restaura-se a alegria de viver com mais intensidade com que os Conjurados restauraram a Independência de Portugal. Os centros comerciais rebentam pelas costuras, os cartões de crédito escaldam, os sacos de compras superam em número a população portuguesa. Dá-se um saltinho à empresa. De fugida. Alguns companheiros de trabalho já não se vêem desde Maio...Como? Leia outra vez o texto...Abençoado feriado de 8 de Dezembro que nos restabelece da lufa-lufa do 1 de Dezembro. É Natal..É Natal...djingo bell...djingo bell...24 é tolerância de ponto não vá a malta não ter tempo de arranjar bacalhau e couves para a consoada. Prendas, surpresas, votos de boas festas aos amigos e aos nem por isso. As redes móveis vão-se abaixo com tanta manifestação de amor e carinho quando pouco antes era crítica sibilina e língua viperina...É só por uns dias. Depois a hipocrisia, a má-educação e o cinismo voltam ao normal. Empaturrados em filhós, sonhos, fatias paridas, bolo-rei e outras conventualidades o pessoal enfartado, com olheiras, fígados inchados engalanam-se para o Fim do Ano. Um ano extenuante ! 3,2,1...Ding-dong e 12 passas para mais 365 (ou 366 se for um ano cruelmente longo) dias de trabalho. Ou nem por isso? 
A troika? Desculpem lá mas estou de ponte do Corpo de Deus e/ou do São João. Voltem noutra altura mas atenção ao calendário, se faz favor. Obrigado!


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