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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Um "salto" à TARZAN !


Há uns anos, uma amiga minha cabeleireira, a Cristina, ofereceu-me um gato. O Tarzan. Era amarelo tigrado e quando atingiu a idade adulta ficou uma cópia perfeita, peluda e bigududa, do celebérrimo Garfield. A "coisa" com a Cristina ficou tremida quando ela começou a aparecer com uma amiga monumental e como um Homem não é de ferro, e eu muito menos, tudo se complicou. Mas fiquei com o gato. O meu saudoso Tarzan. Uma noite, aqui no período áureo do Lote 69, encontrava-me muito bem acompanhado com uma vizinha que há pouco se transferira para este movimentado prédio. Música excelente de Alice Cooper, uísques velhos, chocolates, meia média-luz, sofá enorme e fofo. Ambiente perfeito. Uma noite para recordar. A (ainda) vizinha e eu estávamos na mesma onda na nossa primeira noite. Não tardou que, após as carícias nas mãos e nos belíssimos cabelos loiros longos e ondulados, os lábios se tocassem. O sabor a chocolate acentuava a doçura dos beijos, ternos, primeiro, mais efusivos, depois. O normal. Eis senão quando, ao beijá-la com os olhos fechados para estimular ao máximo os sentido, comecei a sentir uns pêlos no rosto e também na boca. Mau, pensei para comigo, teria a minha companhia uma pele tão peluda? Não podia ser. Uma segunda língua, muito áspera, lambeu-me os queixos. Ai...ai...ai...Aí abri os olhos. Ela não me podia ter enganado daquele modo. E não o fizera. Deparei-me com os olhos grandes e amarelos do Tarzan, empoleirado nas costas do sofá. Atraído pelo cheiro do chocolate, o meu guloso gatão veio investigar e saborear o dono, interrompendo a magia de uma noite até aí inesquecível. Larguei, a muito custo claro, a minha companheira desses momentos divinos, peguei no Tarzan e coloquei-o no seu local preferido: o parapeito da janela da sala de jantar. 
Posto o felino no seu devido lugar, voltei para junto da minha (nessa altura) querida vizinha, disposto a recomeçar os jogos de sedução até aí magníficos de parte a parte. Já avançáramos uns capítulos na intimidade quando fomos interrompidos por novo contratempo. Descolei os lábios dela. Ouvia, vindo do parapeito da janela, um arranhar com uma rapidez anormal e um miado baixo, aflitivo. Dei um salto até à janela e o meu rico e amado Tarzan já ia escorregando pela fachada do prédio. A queda trágica era certa. Ainda lhe deitei a mão mas só lhe toquei de raspão numa orelha. Aflito, vi o Tarzan despenhar-se na escuridão da noite do 5º andar onde moro. Ainda mais preocupado fiquei porque na vertical daquela janela é a entrada do prédio em cimento, um pouco afastada nos jardim relvado que existe ao lado. Enfiei umas calças muito rapidamente e nem apanhei o elevador. Desci a escada o mais depressa que pude, imaginando o meu Tarzan esmagado no empedrado. Cheguei à rua e não vi o gato no local onde esperava encontrá-lo já no paraíso dos felinos. Procurei em vários locais e nada de Tarzan. Vieram-me as lágrimas aos olhos. Perdera o meu inseparável bichinho de estimação. 
De repente, na negritude da madrugada, ouvi um ligeiro ruído oriundo de um canteiro de flores na outra ponta do prédio. Fui até lá e não queria acreditar. O meu Tarzan, de cauda empinada, deliciava-se a cheirar as flores e roçava-se nos ramos mais fortes. Aproximei-me e peguei nele ao colo. Estiquei-lhe uma pata de cada vez, rodei-lhe o pescoço para os dois lados, apalpei-lhe as costelas, abri-lhe a boca, verifiquei-lhe os dentes e puxei-lhe a cauda. O Tarzan estava vivo e de perfeita saúde. Uma das sete vidas fora gasta um tanto por minha culpa. Aposto que algum morcego passara perto da janela e ele "esqueceu-se" do lugar onde se encontrava. 
Viemos felizes de volta a casa. O meu bichano ganhou uma ração suplementar. A minha companheira dessa noite também foi contemplada...e contemplou-me. Como? Este capítulo não interessa. O importante foi o Tarzan salvar-se!

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