É interessante como a notícia de um candidato a fuzileiro, um rapaz "básico" (burro, em linguagem militar) e sem aptidão para integrar aquela força especial que estava a ser metido na ordem pelos colegas fartos de serem prejudicados por aquela "amélia", mereceu nos jornais mais comentários de "virgens ofendidas" por tanta "brutalidade", como se a tropa fosse um jardim-escola, coitado do "menino", do que a notícia acerca uma mulher repelente e sádica que agredia e maltratava crianças de tenra idade que as mães deixavam à sua guarda.
As "virgens ofendidas" com o "massacre" de um gajo que nem homem sabe ser, defendido inclusivamente por homens que dizem ter cumprido o serviço militar, passaram pela notícias das agressões às crianças, como se este acto de selvajaria fosse uma mera acção educativa e a criminosa não merecesse o mais amplo e profundo repúdio. .
Parece-me que alguns dos ex-soldados comentadores ficaram muito mais excitados ao ver uns homens quase nus enrolados numa cena normalíssima nas tropas especiais do que indignados com os castigos às crianças.
É esta a mentalidade podre e perversa da maioria das gentes que não se centra no essencial e se dispersa pelo acessório.
Talvez por ter levado muita tareia dos meus pais quando era miúdo fiquei especialmente sensibilizado com os maus tratos a crianças e ainda hoje não posse ver um pai ou uma mãe bater num filho. O meu foi criado sem que lhe tivesse alguma vez tocado com um dedo.
Pelas reacções nos jornais, até parece que o "recruta" foi para o hospital em estado grave...O indivíduo era uma "amélia", os camaradas tinham de pagar TE (Tratamentos Especiais) por sua culpa e estava à espera de quê? Quantas vezes um tipo tinha de marchar duas ou três horas extra porque havia idiotas que não sabiam qual era o lado direito ou esquerdo, outros parvalhões na carreira de tiro viravam as armas carregadas para os colegas, vários atrasados mentais deixavam cair as granadas já descavilhadas, estes burros estavam à espera de quê? De uma medalha? E não eram só os recrutas, havias oficiais instrutores ainda piores que os recrutas. Apanhei um Santa Margarida, numa I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) de mobilizados para o Ultramar, um capitão de Infantaria que enfiou uma granada dentro de um morteiro 60 com o tubo cheio de graxa da arrecadação e para a tirar ia virar o morteiro ao contrário. Felizmente eu e o meu furriel, também de Operações Especiais, vimos a tempo o que aquele animal ia fazer senão o meu pelotão e os tipos lá da companhia desse capitão tínhamos ido para os anjos ou para o Inferno. Enfiei-lhe um pontapé nas fuças, enquanto o furriel com um grande sangue frio apanhou a granada antes desta tocar no chão. Fui a tribunal militar por agressão a um superior e terminado o caso fui louvado pelo coronel e o capitão foi despromovido. A tropa não é para brincadeiras e a preparação é essencial. Se houvesse filmes da instrução nas Operações Especiais, em Lamego, no início dos anos 70, então é que as "flores de estufa" indignadas é que se borravam todas...
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