Há, ou pelo menos havia, um cabeleireiro chique aqui pelos meus lados. Unisexo. Como já estava farto de ir ao barbeiro do Largo do Carmo, que cortava os cabelos ao pessoal como se fossem as crinas dos cavalos do quartel da GNR mesmo em frente ao seu estabelecimento, resolvi ir ao salão dar um jeito ao meu penteado sempre despenteado.
Entrei e a recepcionista, pois é a casa finória tinha mesmo essa figura decorativa que faz a triagem dos clientes, encaminhou-me para a secção masculina, separada da feminina por um biombo.
Detesto quase tanto as cadeiras destes sítios como as dos dentistas. Não gosto de me sentir preso, sem me poder mexer como e quando quero. Veio uma empregada muito simpática e lavou-me a cabeça naqueles lavatórios semelhantes a uma guilhotinha ou a uma coleira XXL de porcelana numa posição que por pouco não provoca um torcicolo ou um traumatismo cervical. Perguntou-me se queria o produto x, y ou z e disse-lhe que não. Os meus cabelos rebeldes como o dono nunca foram habituados a mariquices de luxos capilares. A extrovertida lavadeira de cabeças despediu-se com um sorriso e foi esfregar outras cabeças.
Minutos depois apareceu a cabeleireira propriamente dita. Uma mulheraça alta, morena, na casa dos 30 anos, muito bem composta de corpo, uma autêntica Sofia Loren das tesouras. Deu uma "boa tarde" muito seca. Antipática. "Como quer o corte?", perguntou asperamente. "É só para aparar !", respondi-lhe, também sem grande gentileza. Trato as pessoas como me tratam a mim. Seja quem for...
Corte daqui, tesourada ali, a "miss não sei quantos" lá foi fazendo o trabalho dela, muitas vezes com uma brusquidão que me irritava. Ajeitava-me a cabeça para a esquerda, para a direita, para baixo, para cima com empurrões repentinos, como se estivesse a meter as mudança num carro sem caixa de velocidades sincronizada. Ao mesmo tempo não parava de roçar o corpo dela nos meus braços, nos ombros e algumas vezes até sentia os seus seios fartos pressionados no meu pescoço. E pelo contacto era evidente que não usava nada sob a bata esverdeada.
Inesperadamente, com aquele jeito típico de "femme fatale" dominadora, voltou-se para mim e advertiu-me com a falta de chá sempre lhe faltara desde que iniciara o trabalho: "Se você não está quieto não lhe posso cortar o cabelo como deve ser". Já pelos cabelos de aturá-la confesso que não fui muito simpático na resposta pronta: "E se você não estiver quieta com as mamas eu não me mexo tanto!"
Levantei-me, paguei na recepção e ela ficou de boca aberta até eu desaparecer porta fora...
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