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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O "MISTÉRIO" daquela noite

Sempre senti um enorme fascínio por Sesimbra. É algo inexplicável e por isso não vou explicá-lo aqui porque pura e simplesmente não saberia como fazê-lo. Numa das muitas férias que por ali passei encontrei-me com um grupo de amigos que já conhecia de Lisboa. Eram várias as festas que realizávamos na Avenida D. Carlos I, muito perto da Assembleia da República, num sótão com uma vista esplendorosa sobre o casario em redor e o majestoso Tejo em fundo. 
Nessa tertúlia era constante a presença da Helena. A moça de 20-21 anos era bastante discreta, normalmente trajava de negro, a beleza dela não  deslumbrava ao ponto de me chamar a atenção, mas era bonita com uns cabelos escuros e lisos a emoldurarem-lhe um rosto de feições correctas. A Helena era bastante introvertida, não participava muito nas conversas e nas brincadeiras e daí passar algo despercebida naquele grupo de irrequietos "destravados".  
Naquele fim-de-semana, ou férias, em que nos reencontrámos em Sesimbra fomos jantar numa marisqueira pequena, mas excelente, numa das típicas ruelas estreitas por trás do então Hotel Espadarte. Lá estava a Helena. Sóbria, discreta e caladinha, como sempre. 
Confesso que não abusei apenas no marisco. As "canecas" de "loiras" também não  foram poupadas no festim...
No dia seguinte, cheguei à praia, precisamente no local da fotografia que coloquei reproduz, a Helena aproximou-se, sentou-se na minha toalha, deu-me um beijo na boca e exclamou, carinhosamente, com um sorriso de felicidade como nunca lhe tinha observado: "Bom dia, amor !". 
Só não caí na areia com o espanto porque estava sentado...
Não sou de me atarantar mas foi uma das poucas ocasiões na vida em que algo de inesperado me deixou sem reacção. 
Levantei-me, fui para dentro de água no intuito de refrescar ideias, ela seguiu-me, nadámos, mergulhámos e sempre que vínhamos à superfície, toma lá outro beijinho dela.
Até que não resisti mais e fui ter com a Gena, a "chefe" da ala feminina do grupo. 
"Gena, o que se passa com a Helena?", perguntei-lhe. 
"Nada, é a tua namorada!", respondeu ela com a maior naturalidade deste mundo.
"Minha quê???", quase gritei à minha amiga. 
"Então ontem não andaste com ela horas na praia às escuras?", disse-me a Gena.
"Andei???", perguntei ao mesmo tempo que tentava desesperadamente lembrar-me da noite anterior...
"Não estiveram a dançar em minha casa num "mel" desgraçado?", acrescentou ela.
"Foi???", interroguei-me, procurando abrir a cortina negra da minha memória.
"Não lhe disseste que era a mulher da tua vida, a tua namorada para sempre?", insistiu a Gena. 
"Disse???", murmurei cada vez mais espantado por ter acontecido tanta coisa e eu não me recordar de nada..."Não me estão a pregar uma partida?", titubeei na esperança que fosse aquela a explicação para o "mistério" daquela noite...
"Não dormiram os dois?", frisou ela, já a azedar comigo.
"Dormimos???", procurei a verdade, incrédulo, "Eu e a Helena dormimos os dois?"
Abandonei o grupo, atirei-me à água, nadei até à plataforma de saltos que nessa época ancorava ao largo da praia de Sesimbra e fiquei por lá o resto do dia, estendido ao sol, escavando nos recantos da memória qualquer vestígio de tudo o que a Gena me acabara de revelar.
Quando nadei de volta à praia, já o sol se abrigava por trás do morro sobranceiro ao Porto de Abrigo, esta encontrava-se deserta...
Lembrei-me deste episódio, na noite passada, quando de madrugada passou no canal Hollywood o inesquecível "Easy Rider". Porquê? Coisas da vida...

  




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