Há muito, muito tempo, era eu uma criança...É pá, desculpa lá, ó José Cid, estou a exagerar um bocadinho. De qualquer modo, tinha acabado a adolescência há pouco tempo e na véspera de Santo António estava no serviço militar, no Batalhão de Caçadores 8, em Elvas. Fiz uma longa viagem de comboio, ainda não havia o TGV...eheheh...de Lisboa para aquela cidade alentejana durante a noite inteira, das 00h10 até às 07h30, com paragem no Entroncamento para a composição se subdividir com umas carruagens para a Linha do Leste e as outras para a Linha da Beira Baixa. Ainda deu para uma corrida aos bares em frente à estação para morfar duas sandes de presunto e empurrá-las goelas abaixo com três ou quatro cervejas Sagres.
À chegada a Elvas, mais um pequeno-almoço de sandes e cervejola no café da praça principal, salvo erro o Lena, antes de entrar no quartel situado lá no alto num velho convento. Entre na porta de armas, saudei o sentinela que se colocara em sentido e o oficial de dia disse para me apresentar no gabinete do comandante. Lá fui. Estranhei porque ele só me chamava para comandar as patrulhas nocturnas (sabia que eu era noctívago...) e ainda era muito cedo para aquelas rondas pela fronteira na Ajuda, Campo Maior, etc. Fiz-lhe a continência e ele com um papel na mão deu-me a boa nova:
-- Meu caro, tenho aqui um convite para você fazer uma excursão -- e passou-me o papelucho para a mão. Era a ordem de mobilização para Angola.
Ok, já estava à espera de qualquer coisa do género e por isso nem me surpreendi por aí além. Fui arrumar a trouxa, despedi-me dos camaradas com quem ali tinha convivido durante três meses e regressei à estação para apanhar o comboio de volta, não para Lisboa mas para Tomar, onde me devia apresentar no Regimento de Infantaria 15. Outra visita ao gabinete de um comandante e novos papéis para seguir de Tomar para o Campo Militar de Santa Margarida. Outra viagem de comboio. Nova apresentação no Batalhão de Caçadores que estava em formação e nova viagem de comboio para regressar a Lisboa e gozar os 10 dias de férias a que todos os mobilizados para o Ultramar tinham direito nessa altura. Eu sempre tive uma paixão por caminhos de ferro mas naquele dia já ia quase em mil quilómetros para trás e para a frente quando cheguei à Estação de Santa Apolónia já madrugada alta e a poucos metros dos arraiais populares de Santo António. Já que tinha sido premiado com uma viagem de borla para Angola enfiei-me em Alfama entre as sardinhas e as cervejas e acabei os festejos dois dias depois na Mouraria, quando fiquei suficientemente sóbrio para voltar para a minha casa.
Foi uma desbunda de tal maneira memorável que nunca mais festejei os Santos Populares em arraiais. E todos os anos me lembro desta epopeia.
Iniciei recentemente um Blogue (http://elvasmilitar.blogspot.pt/) onde tento abordar temas sobre as Unidade Militares e os militares que estiveram nas fileiras em Elvas.
ResponderEliminarInfelizmente tenho-me deparado com poucas coisas sobre este tema, assim venho solicitar o favor (se assim o entender) que me facilite documentos, fotos e mesmos historias por si vividas que possam fazer parte deste blogue.
Através de pesquisas no sitio (http://trokatintasnews.blogspot.pt) descobri que o senhor esteve no Batalhão de Caçadores N.º 8 em Elvas, pelo que venho pedir, alguns dos documentos acima referidos, mas mais importante de tudo são as suas historias sobre o quartel.
Grato pela atenção dispensada
Atentamente
Fernando