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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ELA não está apaixonada !

Friamente, só como as mulheres sabem sê-lo, Ela disse-lhe com a maior naturalidade deste mundo: "Não estou apaixonada por ninguém!". Ele, apanhado de surpresa, ficou boquiaberto, sem reacção, o sangue congelado nas veias, os pêlos da espinha eriçados, as unhas descoloridas, os cabelos caídos como as orelhas de um cão abandonado pelo dono, as pernas trôpegas, os braços dormentes, os lábios cerrados, a barba mais esbranquiçada, os olhos turvos de lágrimas ou do raio do suor deste malfadado tempo abafado, o nariz dilatado para oxigenar mais eficazmente a dolorosa decepção fungava a sinusite, a língua secou como um bacalhau nas salinas de Aveiro, o estômago contraiu-se num nó susceptível de enforcar a angústia que o invadiu, os pés esfriaram ao nível do nariz de um urso polar, a voz bloqueou entre as amígdalas, dois dentes despenharam das gengivas subitamente enrugadas, os pulmões reclamavam por mais O2 que o existente naquela atmosfera saturada de fumaradas de escapes subornados na inspecção dos veículos, um tique nervoso súbito fez o braço direito atirar com o cinzeiro para o chão, onde se desfez em mil pedaços voadores tal como o coração dele após a terrível revelação dela, os pensamentos rodopiavam num turbilhão idêntico ao Katrina que destruiu Nova Orleães e o seu primeiro impulso foi pedir emprestado o skate ao miúdo filho da vizinha do prédio de lado para embalar pela avenida abaixo em velocidade gradualmente acelerada e esmagar o corpo minado por um espírito arrasado e incapaz de reagir contra o prédio meio quilómetro mais abaixo e colocar um termo ao sofrimento atroz que ela tão cruelmente lhe causara. 
E depois...

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